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Incompanhia

A companhia dos (in’s) INcerto INcoerente INconstante

Incompanhia

A companhia dos (in’s) INcerto INcoerente INconstante

8000 km o teu dia

24.08.19 | Delcy Reis

Hoje, apesar de a 8 000 km de distância, é o teu dia. E este sim é genuinamente o dia do pai, sem qualquer merchandising the prendas nos centros comerciais, é um dia único.

Muitos podem pensar que, o amor que podemos sentir pelo pai tem idade. No meu caso, e sem perceber bem porquê, julgo que pela semelhança de feitio, certa que será por não ter o meu próprio núcleo familiar me agarro a ti, como fonte de força e continuidade.

Sim, sei que não fui das mais fáceis, como recentemente me chamaram de pespineta, palavra que se encaixa perfeitamente no perfil,  por não conseguir não controlar a voz que quero que se ouça, pela injustiça, pela discórdia de opinião. Por querer forçosamente controlar tudo, e ser-me tão difícel ser de outra forma. E sabendo que tipo de reacções forçosamente gera num outro género, nos mais diversos ambientes.

Hoje, é o dia do Baba, sempre alegre e com um sentido familiar  incrível.

Hoje é o dia de alguém que me deu a oportunidade de hoje poder dizer que conheci grande parte da Europa, no tão trendy roadtrip, com parques de campismo, natureza e aventura à mistura.

Hoje é o dia de pedir desculpa por todas as macacadas feitas contigo, sempre com o propõsito de te desafiar, sempre com o propósito e vontade de te querer ver da mesma forma, ignorando que o tempo passa, e que o factor idade, apesar de conscientemente colocar como sendo apenas um número, basta termos um espelho para vermos que não é.

E, não vão ser estes 8.000 km de distância que vão esmorecer esta ligação, entendo que a valoriza ainda mais, por não ser tão garantida como era antes. 

Promovemos mudanças para sentirmos. E no meu caso consigo encontrar inúmeras razões para o ter feito, e principalmente o timing.

Hoje, é o dia de alguém que sempre trouxe o sentido de responsabilidade, sempre trouxe alegria, sempre trouxe a visão de mundo, muito para além de Portugal.

Hoje é o dia de alguém, que na sua juventude foi para a Alemanha, quando ninguém o faria.

Essas poderão ser também influências genéticas no  meu ser.

Um grande beijinho, molhado de areia, pó e calor. 

Medo

21.08.19 | Delcy Reis

Escrever sobre o medo, em vez de escrever sobre a felicidade, e a paz. 

Ocorreu-me porque apesar de ser um sentimento que procuramos evitar a todo o custo, este por vezes assalta-nos, e por vezes sem razão aparente.

Hoje, penso que será uma palavra substituída por controlo, risco, e mudança.

Para nos sentirmos mais leves, mudamos, para nos sentirmos sem qualquer tipo de controlo mudamos, para podermos não assumir qualquer risco, mudamos, porque o trend e o que está na moda, é ser feliz. 

Aqui o consciente emocional prende-se fortemente com os valores que temos.

Vivo numa cidade que desconheço, sem qualquer profundidade em termos de relações. Mas que em nada muda no que respeita aos últimos tempos vividos no  meu país berço. 

Mudança servirá sempre para podermos sentir a felicidade, e sairmos da rotina que aceitamos como sendo normal. 

E quando aceitamos essa rotina como sendo normal, procuramos gerir a balança emocional nas coisas pequenas, ou então na busca de paz e de som de passarinhos.

Queremos sentir que somos importantes para massas, através dos posts nas redes sociais, somos seres que por defeito e, nos dias de hoje gostamos de partilhar a felicidade,  com cada vez menos privacidade, ou então com cut off temporal distinto para sentirmos que estamos em zona segura.

 

Imaginamos a vida das outras pessoas tendo por base o perfil que apresentam num instagram, as redes sociais misturam-se e o posicionamento e o propósito das mesmas, incialmente idealizado, vai-se claramente ajustado as necessidades das economias mundiais atuais.

Todas elas ferramentas para nos sentirmos acompanhados no mundo, e sabermos o gossip daqueles que em tempos tivemos por perto e agora estão distantes fisica ou emocionalmente.

Sim, procuro sair da espiral negativa do medo, para não me sentir aprisionada, e para isso, mudo.

Procurarei sempre acreditar que a mudança trará sempre algo de bom, e superará qualquer medo.

 

M08

18.08.19 | Delcy Reis

Talvez me vejam fútil e igual a tantos outros que escrevem e têm perfis de Instagram, pelas fotografias que coloco, pelo perfil que procuro endereçar e por aquilo que pretendo transmitir. Caindo no julgamento precipitado de eventualmente me imaginarem numa praia a pedir que me tirem a mim e só a mim uma fotografia. Não sou, até serei eventualmente o oposto, aquele género de rapariga que adora as fotografias de costas e com a cara pouco visível. 

E porquê? Porque existem as tendências das fotografias sérias, a olhar para Deus, como alguém recentemente tagou,

Porque queremos transmitir uma imagem de tranquilidade, paz, e harmonia, quando genuinamente não é assim que a vida nos transporta?

Porque querermos mostrar e forçosamente ambicionar um estado de paz idílico que tão bem conpagina com as quotes que estão tão na moda, e das quais até eu faço mote e uso de inspiração?

Não me julgo fútil nem quotidiana, não me forço a encaixar. E vivo bem com isso, 

Vivo bem com a cada vez menor privacidade a que tenho direito, não vivendo bem com a falta de concordância digamos que espero que, de alguma forma ajude a que os eventos se desencadeiem.

Cada dia e cada corte de rotina geram uma nova eu e talvez por esta mutação constante sinta cada vez mais a necessidade da fotografia, do auto retrato, para ter um barómetro e não me esquecer das raízes.

Sim, alheada de uma realidade e procurando absorver outra completamente distinta. 

Sim a bussola são as fotos. E também as palavras em português. 

M de mudança, oito de infinito e porque foi sempre o meu número, da sorte? 

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Oman

17.08.19 | Delcy Reis

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Viagem diferente.

Arrancamos de carro as 9 da manhã do Dubai, com um Destino apenas Muscat, mar, relva e um suposto descanso. Apesar de ser o EID, feriado religioso onde se celebra o sacrifício por aqueles que mais amamos, aproveitamos para viajar.

Ignorando o planeamento total, e confiando na forma de viajar talvez mais arcaica, principalmente no que ao visto na fronteira diz respeito, arriscamos. Com um plano meio desplaneado.

Cinco horas e meia de viagem e travessia de pleno deserto, onde a paisagem apenas se revelava por dunas, corvos, prisões, e pontualmente um ser humano, a reparar a berma da estrada.

Auto estradas de quatro faixas, com retas a perder de vista, mas com toda a estrutura que as permite serem apelidadas de autoestradas, e sem qualquer tipo de portagem, portanto vias rápidas que permitem aos seus utilizadores chegarem de forma confortável ao destino.

Primeiro desafio, a fronteira entre o Dubai e Oman. Uma fronteira, como aquela que em tempos existia em Vilar Formoso, onde somos perguntados qual o destino, de que país viemos e qual o propósito da viagem.

No meio de papeis, burocracia e revisões, principalmente no que respeita à viatura em uso, passamos a fronteira, e seguimos viagem, para um destino encantador.

E assim depois de as cinco horas de viagem percorridas em pleno deserto, avistamos uma costa, com montanhas que parecem placas de esponja amarela, e um mar acinzentado.

Talvez pelas nuvens e pelo calor abafado que se fazia sentir. Em estrada serpenteada descemos até a Shangri'La Resort.

O típico Vallet, para arrumar a viatura, e toda a conformidade e serviço que somos merecedores. uma entrada de palácio arábico com uma fonte circular no centro, e um arco gótico. 

Cheiro a Luban, e a oferta Hallwa e o café arábico como forma de boas vindas.

Uma vontade imensa de dar um mergulho no mar, com a esperança que este, traga o contraste de refresco que tanto procuramos nesta parte do globo.

Uma viagem equilibrada entre descanso e aventura, onde um disco voador, reuniu pessoas de diferentes partes do globo, de diferentes culturas, em duas horas de plena brincadeira, no mar, com ondas, e algumas gargalhadas a mistura.

Praia com camelos, relva, chá, crianças e pedras. Apenas a brisa do mar, e o bater das ondas, se bem que a nossa presença fez-se sentir.

Viagem de encher o coração e os olhos no dia seguinte, a Jebel Shams, onde a subida foi feita pela estrada nacional.

A base no Nizwa Fort, onde provamos o hallwa com uma textura gummy, doce e quente.

No Nizwa forte, percebemos que também exploramos esta parte do globo, e procuramos conquistar, e algumas das influências que temos no nosso território algarvio, os doces com base de amendoa, e doce de chila, os potes de barro, e as ceiras são também utensílios desta parte do mundo.

Estrada serpenteada, quer em largura, quer em altitude, onde o jeep foi claramente a melhor aposta. Base da montanha suportada numa cratera, num vale, com casas oferecidas pelo governo, sem qualquer planeamento, mas com semelhanças no que à edificação diz respeito e as cores, sempre combinadas com montanhas roxas, amarelas, e verdes.

Chegamos ao alto e ao tão esperado Canyon, com uma vista linda. Milhafres, aves de rapina e cabras foram as espécies predominantes, ao longo do percurso e no cimo, o vento, e a paz, fora do  mundo civilizado. Ainda procurei o eco. Mas ali, não o encontrei.

Sim, as típicas fotografias foram tiradas, e foi invejada a presença de uma aventureira que ali acampou, uma tenda, uma cadeira e um livro. Com uma paisagem de cortar a respiração.

Descemos, e visitamos a vila, perto de Wadi Gul, com casas feitas de barro, bastante antigas, onde na parede, e na mistura do barro, podemos ver pedaços de palha, e que as mesmas, com mais de 900 anos, ainda persistem com alguma resistência.

Mussa levou-nos para o meio do rio, onde vimos crianças a banharem-se no seu fim de semana, onde procuramos pepitas de ouro e vimos um vale que parecia o oásis por todo o contraste de cores, por toda a envolvência.

O cinzento da pedra, azul da água, e amarelo da montanha, com os contrastes de veste branca deles, e das mulheres com cores quentes, a rezarem para Meca.

Por sermos estrangeiros, olham para nós e riem-se, porque somos diferentes e porque nos vestimos de maneira diferente.

Por sermos estrangeiros, paramos numa estrada para comer dates, que sabem a mel.

Por sermos estrangeiros, não saimos à rua num tipico dia de familia, onde toda a civilização da aldeia, respeita os seus costumes e tradição.

Mas, e mesmo por termos sido os estrangeiros portugueses que fomos, fomos bem recebidos e acolhidos no final com um chá delicioso.

Regresso de noite, numa daquelas noites de algarve, só que em plena travessia de deserto.

De cabelos ao vento, numa viatura muito particular e com uma companhia também ela muito particular.

 

 

 

Hoje é dia de gémeos

05.08.19 | Delcy Reis

E partilho não com grande exposição, assim espero que hoje é dia de gémeos.

Gémeos que conheço há 34 anos, e que apesar de o serem, tão diferentes são.

Naturalmente que viram a luz, em momentos diferentes, mas muito próximos e exigiram uma carga dobrada de esforços, e de amor também.

Aqui o tema do género naturalmente contribuiu para que, não fossem vestidos com a mesma cor, nem vistos de forma igual.

Aqui, o tema do género, gerou também uma cumplicidade única entre os dois que em nada pode ser criticada, mas antes admirada pelo diferente e giro que deverá ser.

Hoje é o dia de os ver juntos num bolo de aniversário, com caras divertidas e a celebrar mais um ano.

Será para recordar porque ja há bastante tempo que não o é assim vivido, naquele núcleo familiar, o original que naturalmente se abre a que outros membros surjam e façam parte do mesmo.

Hoje é o dia de me lembrar das décadas já celebradas e partilhadas com ambos em ambientes tão diferentes e em fases de vida também elas tão distintas.

Sim, talvez tenha parado e estancado um pouco em termos de vida, ou então assumido um caminho de rutura ligeiramente diferente dos deles.

Mas, essa diversidade alenta e faz com que tenhamos sempre coisas novas para partilhar.

Hoje, é dia de gémeos cuja fortaleza já construída me permitiu ter vivências e experiências que de outra forma não teria.

E apesar destes três pontos estarem geograficamente tão separados, como alguém recentemente me recordou existem diversas formas de comunicarmos, e uma chamada de video transmite tanto, que já não me lembrava o que era comunicar com aqueles que continuam a fazer parte da minha vida desta forma.

Hoje é o dia de recordar os micro machines, as lojas de despensa, as corridas de bicicleta, e os sinais de trânsito no páteo.

Hoje é o dia recordar as feridas nos joelhos, o sabor a sangue salgado, as descidas de bicicleta no mato, os tesouros escondidos.

Hoje é dia de recordar os concertos que vimos, as músicas que partilhamos e os gostos que nos fazem sentir unidos.

Hoje será o dia de nos esquecermos dos adultos que nos tornamos e voltarmos a nossa cumplicidade jovem, onde nada poderia ruir a relação que tinhamos, porque sabiamos naturalmente que estavamos lá, para a companhia, para o desabafo.

Hoje, é o dia para acreditar que os laços de sangue continuam e sempre continuarão a valer a pena.

Hoje é o dia de esquecer a cigana de rua, a acuza pilatros, a irmã mais nova.

Ou então, de voltar a lembrar.