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Incompanhia

A companhia dos (in’s) INcerto INcoerente INconstante

Incompanhia

A companhia dos (in’s) INcerto INcoerente INconstante

Os dias de hoje

25.11.17 | Delcy Reis

Os dias de hoje, são os dias em que uma noite de Novembro é brindada com dezoito graus. Os dias de hoje, são os dias em que falar português em Lisboa é um exclusivo. Os dias de hoje, são os dias em que um fórum tecnológico é um evento mediático e soberbo para o nosso pais, e a falta de água deixa de ser controlável e relevante, quando equiparada. Hoje, os dias são curtos, o sol tem preguiça em nos iluminar, e as noites brindam-nos com cheiro a lareira. Ainda me brindam com o cheiro a lareira. A noite de ontem presentou-me com alguém à minha espera. Não estava habituada e foi estranho, mas foi bom e foi uma gata, mãe, à procura da sua lareira. Nos dias de hoje, estamos acessíveis, e expostos a informação das mais diversas formas, e a organização da comunicação parece não existir, sendo tantas as formas e os meios, que por vezes me sinto perdida sobre com quem, como e por que via estou a falar com o mesmo ser do outro lado. Nos dias de hoje, é normal falarmos a escrever, sem olhar, nem exprimir. E habituamo-nos a não olhar a não abraçar, e a ficarmos cada vez mais indivíduos, individuais. Nos dias de hoje, o mote faz mover as pessoas, que se exprimem por sentimentos comuns, em massas ou em grupos de duas, três pessoas. Ou porque ouvem a mesma musica, ou porque se vestem de forma idêntica. E que dias são estes, onde não sabemos comunicar a não ser por escrever? E, que dias são estes que, não sabemos que decisões tomar, em função daquilo que queremos? A sociedade e os meios onde circulamos, enredeiam-nos e transformam-nos em pessoas diferentes daquelas que, na nossa essência fomos um dia. Estando a tecnologia, a promover uma mudança tão veloz nos nossos hábitos e costumes, estando a globalização também bastante enraizada nos nossos hábitos diários, a que cultura afinal pertenço? Estranho ver o galo de Barcelos em Beijing, fico com a sensação que estão a roubar um pouco de mim. Estranho estar no aeroporto, e sentir que, após o evento de independência tão proclamado e levado adiante de Barcelona, sou diferente, tal como tantos outros, e vou para uma fila diferente, não por eficiência. Estranha esta mudança de comportamentos. Espanto meu em ser abordada por uma mulher que, por estar grávida, usa esse argumento para pedir dinheiro para jantar. Confesso que, ainda explorei para perceber até onde o argumento de uma filha iria. Que decepção este ser humano. Espanto o meio que me rodeia, onde o individualismo impera. Mas entendo, porque também eu tenho que cuidar do meu ser. Exponho-me ao estranho, por meios diferentes que frequento. Mas o estranho, é caótico. Espanto e estranho, os dias de hoje, onde me sinto um camaleão.

Delcy.

16.11.17 | Delcy Reis

Delcy, uma mulher requintada de gostos e de aparência. Cabelo cinzento, ondulado, que lembra as ondas do mar em pleno inverno, com o reflexo do céu nublado, e escuro, acinzentado. Óculos de gata, sempre com vestido de tecido delicado, alfinete que se destaca no peito, e uma unha vermelha, bem pintada. Cheiro a pó de arroz, e bochecha macia. Aquela voz rouca, que sempre foi capaz de gerir desde a comida dos animais, até à grande festa de Natal. Lábio sempre pintado de uma cor com cheiro a framboesa, que realça o pouco de carnudo que tem. Bico de canário, que lhe faz companhia, sempre bem protegido, na sua gaiola dourada. Delcy, filha de reis e irmã de artistas Sempre com tudo, aliás com o que contávamos que tinha que existir, para cada momento com que nos presenteava. Não era nem a mais, nem a menos, era o que era suposto ser. Aquilo com que nos fomos, cada um, pela sua identidade, habituados a ter. Na medida satisfez o ser de cada um. Mas fica sempre um beijo por dar. Mas fica sempre um chocolate de Leite, em plena noite de Natal, por nos deliciar. Mas fica sempre, o doce papo de anjo, bem regado com fios de ovos, por lambuzar. Mas fica sempre uma regueifa de canela, aquecida com a manteiga a derreter por trincar. Mas fica sempre o pastel de massa tenra, cortado com copo de vidro, por comer. E ainda bem que fica, porque assim, já fez parte. Delcy,

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