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Incompanhia

A companhia dos (in’s) INcerto INcoerente INconstante

Incompanhia

A companhia dos (in’s) INcerto INcoerente INconstante

Avante Camarada

23.10.17 | Delcy Reis

Não sei que onda me invadiu, talvez a oportunidade de ter sentido este fim de semana que gosto mesmo de escrever e transmitir a vida que tenho, para que outros a possam testemunhar, mesmo que de uma forma distinta, digital e a preto e branco. Não sei que onda me invadiu, revoltada, de espuma branca, com grãos de areia misturados e que me está a dar força para me levantar, e seguir. O medo é o pior dos inimigos, que nos impede de viver. Tenho experiência da diversidade da vida, como forma de entretenimento e contemplação da mesma. Pessoas que achava que nunca ia conhecer, ambientes que achava que nunca ia frequentar, cultos vícios, fumos, sons. Senti-me enredada, num mundo tão global, do qual sou apologista mas que, em certa medida, me fez esquecer da diferença, que tem que ser preservada e mantida, para que a diversidade continue a existir a nossa volta. Habituada ao plástico e artificial, ao brilhante e perfeito, este ano já experimentei, o simples e belo. E é tão bom este contraste! Esta não perfeição humana, que tanto me assusta, é boa de ser assistida. Engraçado, que tenho desfrutado bastante desta contemplação social à qual me tenho sujeitado, onde pretendo não aceitar a crítica, mas não consigo viver sem ela. Acima de tudo, não consigo viver sem a minha opiniao nos eventos que me interferem. E antes, não era assim, parecia esponja que só absorvia, Agora sou esponja que só deita fora, porque ora não quer absorver mais, ora não gosta daquilo que tem que absorver, na bancada da vida. Que onda tão grande de revolta, suja de lixo e poeira abalou sobre mim hoje. Cansada de disfarçar, de ocultar, com vontade de descontrolar todas as emoções, sem medo de temer, de errar, de me perder, e voltar a encontrar. Vida, entra em mim novamente. Uma multidão, a pular e a dançar, acreditando na alegria da sua luta. Avante Camarada. Que mistura, de cruo com prosa. É o mesmo.

Maria pé descalço

23.10.17 | Delcy Reis

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Obrigada pela visita. 71 anos de inspiração, gratidão e sorriso. Maria veio a Lisboa. Influência dos meus pais, com um vinil onde ela aparece de cabelo eriçado, comprido e solto, olhar profundo e sorriso infinito. Entrei no coliseu, ambiente bastante intimista, e sempre acolhedor e quente. Palco com três cordas, percussão e teclas. Luzes indiretas, e eis que chega. Maria, a reluzir estrelas, sorrisos e pé descalço. Braço cheio das suas pulseiras de metal. Presença marcante, mesmo que num palco diminuto, onde a suas ancas gingam com o samba, braços no alto, no cabelo, por vezes sem saberem onde estar no meio de tanta emoção; onde todos são convidados a fazer parte daquele momento de alegria. Fernando Pessoa em música, as cordas marcam o seu passo, e delicadamente, acompanham uma voz soberba. As canções que alguém que fez, e escreveu e que permitiram tamanho arranjo musical, onde as emoções e uma fera ferida, por momentos e detalhes de uma vida, permitem um historial de música inigualável. E pensar, todo o sentimento desta artista, num palco, agradecendo tudo o que a vida e os seus companheiros de palco lhe proporcionaram, ainda agradecendo a todo o amor que recebeu e ainda tem para dar. Filha de Dona Cano, Irma de Caetano Veloso, confidente de um Roberto Carlos, todos eles, gigantes intérpretes musicais. Enquanto estive no coliseu, tive a oportunidade de viver. Emoções. Coração bateu mais forte, lágrimas escorreram pela cara, com um sorriso gigante. Bomba emoção, onde a razão ficou na rua. Andamos, por vezes pouco reconfortados, e a tua visita a Portugal, trouxe, seguramente algum conforto, pelas palavras e melodia que me transmitiste. Engraçado que, nos dias de hoje, a tendência por vezes, será procurarmos um psicólogo para nos fazer entender os nossos sntimentos, as nossas emoções. Mas, basta ver um espectáculo desta dimensão, prestando a merecida atenção a tudo o que ela nos diz, e saímos de coração cheio, ficando a perceber um pouco melhor a vida.. Maria, és grande.