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Incompanhia

A companhia dos (in’s) INcerto INcoerente INconstante

Incompanhia

A companhia dos (in’s) INcerto INcoerente INconstante

Beijing

15.06.17 | Delcy Reis

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O coração ditou, e um dia de Março, de noite o impulso surgiu. Recuperar o que a vida, sem me ter apercebido, me fez perder. Uma grande amizade. Mediante as prioridades que vamos tendo na vida, tomamos decisões, que mudam e se alteram de forma a nos ajustarmos a realidade que se nos apresenta. Esta relação foi negligenciada, e foi pela sua existência que tive a oportunidade de conhecer uma fantástica cidade, e pessoas de todo o mundo. Foi por ainda valorizarmos aquilo que partilhamos, que voltamos a estar juntas. Obrigada, aos dois, pelo coração, que veio novamente cheio. Sim, expus-me a novas experiências, a novas interacções com pessoas completamente diferentes e com experiências de vida distintas. Voltei a forçar a abrir o meu cérebro e coração e não permitir que ficasse formatado a uma ideia pré concebida de tudo o que passei até então. A cidade aproximou-se muito simétrica, quer nos arredores, quer no centro da mesma, e a nuvem amarela esbranquiçada abraçou o avião quando aterrei. Viagem longa de 14 horas, onde repus todas as energias por forma a conseguir viver da forma mais intensa a semana que se aproximava. A fotografia que partilho mostra tudo. Um abraço. Um abraço que já não tinha há tanto tempo. Um abraço de boa vinda, um abraço de obrigada, um abraço de saudade, esse sentimento que por vezes é tão difícil de gerir e que tantas vezes me faz chorar, de alegria porque aquilo já conquistei. Mas sim, foste tu e foi por ti que viajei, para ver a tua vida e a forma como a levas, para te voltar a conhecer, para não nos esquecermos daquilo que já partilhamos. E sim aproveitamos para isso mesmo, para nos lembrarmos como sabíamos e ainda sabemos tão bem partilhar bons momentos. Visitei a grande muralha, uma ínfima parte da monstruosidade que aquela edificação representa no mundo, e nessa pequena porção de muralha senti os cheiros, o vento, e admirei a vegetação que tanto muda de acordo com as estações e altura do ano que lá vamos. Sujeitei-me a uma nova experiência e a novas tendências que acreditava ter já definido que não gostava. E aprendi que, podemos gostar, podemos experimentar e perceber se gostamos ou não. É bom divertir, e também faz parte. Conheci outras profissões. outras formas de vida, percebi que posso ter olhos de japonesa, percebi que sou muito transparente. Sempre. E tem que haver critério, também para isso tem que haver critério. É o desafio que tenho que abraçar, mas o coração é tão grande e tem tanta vontade de conhecer pessoas diferentes, que é transparente e bom. Mal abri a porta do táxi, cheirou a Ásia, esse continente que me fascina por ser diferente da minha realidade, pela forma contrastante em que a vida decorre, entre a cultura alegre, colorida quer na religião, quer nas ruas, que contrasta com o padrão citadino e formatado de uma grande cidade. Recordo-me da dança alegre, com amarelos, rosas, verdes e leques gigantes e de pessoas, a sorrir a dançar e a partilhar a alegria de viver. No meio da cidade financeira encontro um bairro, Guomão, simpático, acolhedor, onde eu sou a diferente, nos olhos, na cor da pele, no nariz. Apontam e sorriem. Cansada e perdida no sentido de tempo, quis-me perder na cidade proibida e nos seus pequenos detalhes de Ásia. A história que já pisou aquele espaço, que é o palácio maior do mundo, espaço outrora proibido à entrada de outras pessoas que não as pertencentes à família do imperador e respectivos empregados. Perdi-me em duas horas lá dentro, por escadas de mármore, pateos de perder de vista, jardins com pinheiros, onde ficaram a faltar os cânticos daquela religião que tanto me tranquiliza. De noite, fomos comer um hot pot, multicultural, onde conheci a outra dimensão cultural da china. Partimos para a grande aventura que foi o festival na Grande Muralha. Daqui, retenho um cheiro em especifico: o cheiro a madeira, que ainda hoje me faz bater o coração mais forte. Daqui retenho a dança, a musica, os sorrisos, a alegria. Da Colômbia, vieram os passos de dança, de Espanha os cânticos cheios de emoção, da América o materialismo e a aparência, da Irlanda, a cerveja e as boas gargalhadas em convívio. De França trouxe o Inglês com o trave de França misturado e novamente o aprender a rir-me de mim própria e da atitude que tenho que ter perante a vida. A borboleta, fez-me correr e levar com balões de água. Conheci portugueses que estão também em Xangai, e que valorizam o seu país mesmo estando fora, e talvez por aí o valorizem mais e vejam que também tem coisas boas, que os possam demover a regressar. No Summer Palace, conheci a história dos imperadores e imperatriz que por lá passaram, dos seus luxos, ambições e megalomanias. Tudo construído a uma escala gigante, como forma de mostrar poder e ostentação, assim como preservar aquilo que os caracteriza como cultura, e que tanto valorizam: mar, terra, fogo e ar, são os quatro pilares que sustentam aquela cultura espiritual, e a sua arte. Povo também muito ligado à terra, ao nosso planeta. Talvez estejamos todos, de forma diferente. Aqui,lembrei-me que gosto de música, que a ocarina é também um complemento daquela cultura. Faz-me lembrar a corrente de um rio, que é empurrada pelo vento. Nos Hutongs, conheci o xadrez chinês, vi que as barbearias são iguais às nossas, e que eles também gostam de chá, bem forte, depois de um dia intenso de trabalho. Esta experiência, preencheu-me e reconfortou-me novamente, por me aperceber que as pessoas fazem parte da minha vida. Umas mais que outras, mas preciso delas para me sentir integrada no mundo. Apesar de estarem todas arrumadas em caixinhas e gavetinhas, preciso de saber interagir com cada uma delas. São 9.668 km de distancia, mas sei que este curtinho tempo em que estivémos juntas, tornou a distância mais pequena. Sei que és importante para mim e que não me posso afastar de ti. Fazes também parte do meu porto, onde a âncora vai atracar. 謝謝